Para mim é bastante difícil definir
o que e
onde é "casa".
O local onde passamos mais tempo? Aquele com que mais nos identificamos? Deixo esta discussão filosófica para mais tarde.
No último mês dei por mim, várias vezes, a "voltar a casa".
Chegada a Barcelona, regressando de Barcelona*, ou da Grécia*, ou simplesmente das Feiras Novas*. Quando voltei a Lisboa ou quando, "fui a casa" (esta, a algarvia, ainda
prevalece sobre as restantes).
BarcelonaPassaram 2 anos desde que esta cidade foi a minha casa por 3
intenssíssimos meses, embora eu insista em pensar que foi o ano passado.
Ao chegar ao aeroporto, as pessoas pareciam-me familiares. As caras, a pronúncia, os cortes de cabelo (ou a falta deles), as roupas. "Acho que já os vi em qualquer lado". Ou talvez não. Claro que não. Onde é que eu tinha a cabeça.
Dirigi-me à máquina para comprar o T10, para apanhar o
train até
Sans e depois metro até Catalunha, onde um amigo me esperaria no Zurique. Segui escrupulosamente todas as suas instruções.
Quando cheguei ele não estava - parti à descoberta.
A minha rua, a dois passos das
Ramblas, o meu prédio (já não me lembrava do nº, e na verdade, já não me lembrava da porta), a entrada que foi finalmente arranjada. Um arrepio na espinha ao passar ali. As lojas, os cafés, os bares. Parece que estou a sentir tudo de novo.
Encontro o meu amigo. Agora vive no
Raval. Esse bairro problemático que me acolheu nos primeiros 10 dias de busca incessante de casa, que só compreende quem já passou por isso. A "Residência espanhola" é um retrato fiel.
Consegui descobrir essa rua, esse prédio, essa porta, essa janela. Só não me lembro o andar. Outro arrepio. Dez dias em que eu
senti tanto.
Chegámos a casa - a dele. Experimentei o
bicing. Catalunha,
Laetana, Marina,
Barceloneta, praia, o meu Hospital! Paragem breve para tirar os sapatos, lamentar não ter
bikini vestido, sentir a água tépida, deitar na
terra, sentir-me de
novo a sair do Hospital e dormir a
siesta na concha.
PortoA diferença de temperatura ao chegar ao aeroporto. Metro. Arrepio ao passar a ponte e ouvir Porto Sentido de Rui Veloso - só na minha cabeça. Subir a Avenida a pé, com as malas, depois de 2 noites mal dormidas e uma semana intensa.
Chego a casa. Sinais de quem saiu à pressa. Roupa passada e por passar dispersa pelos sofás da sala e tábua de engomar.
Roupa no estendal da cozinha já desidratada. Toalha no chão da casa de banho. E, no quarto, a bata e o
estetoscópio em cima da cama, a lembrar que
amanhã é dia de trabalho. Este podia ser qualquer regresso: da Grécia, de
BCN, do Algarve, ou simplesmente de um qualquer fim-de-semana fora...
AlgarveNa mala meia vazia: um
bikini e túnica de praia, chinelos, 2 T-
shirts e 1 camisola. Três peças de
bijutaria, não fosse eu querer aproveitar a noite algarvia.
Fui enganada. À saída do comboio a temperatura não deixa dúvidas. Está
fresquinho.
Chego a casa. Cozinha remodelada. Parece maior. Fogão eléctrico, caldeira... será que finalmente vou ter um banho em que a água quente não acaba (sempre!) comigo?
Os meus pais, os meus avós, tão queridos - na mesma.
Os meus cães! O Prince ainda luta pela sobrevivência do lado de cá e a
Libby sempre irrequieta.
A missa. O Sr. Padre tem mais cabelos brancos.
A maioria engordou. As mulheres têm o cabelo mais
eriçado. Os homens têm menos cabelo. Os
jovens no altar já não são os mesmos. Estes ainda deviam ter
dentinhos de leite no meu tempo. Os outros casaram. Há ausências na assembleia. Teriam ficado em casa por causa da chuva, ou já não estão entre nós?
Volto a calçar os sapatos amarelos. Recordações de um ano e meio de Verão.
Na varanda, deitada num baloiço brasileiro, olho o mar. Está mais azul. Parece mais perto.
Proliferaram estradas, rotundas e prédios.
LisboaA minha casa durante 6 anos. O metro da Cidade Universitária onde começo a
encontar "
gente". Passo pela cantina e oiço hinos, vejo capas negras, adolescentes pintados, megafones, gritos, risos - são as praxes.
Semáforos e não oiço nem vejo a
senhora dos nougats. Onde estará?
Entro no hospital. Mais
gente. Parece que estou na faculdade outra vez.
Procuro os meus colegas, dispersos por serviços que eu não sei/nunca soube onde são.
Encontro. Um sorriso, um abraço sentido. Tão bom.
Um almoço numa esplanada com a luminosidade lisboeta, para matar saudades e pôr conversa de ano(s) em dia. Um café numa casa de chá espectacular, só com pessoas de quem eu gosto. Um arrepio. Tão bom!
Gare do Oriente. Está na hora de partir deste ambiente cosmopolita, mas ao mesmo tempo tão familiar e acolhedor.
Saudades de
casa - sempre!
*
assuntos a desenvolver em futuros posts