Regresso a casa depois de uma noite de Urgência, neste matinal cinzento bruma tão Porto, com um sorriso nos lábios.
Porque me sinto feliz quando faço alguém feliz, hoje sou feliz.
Não usei fármacos ou técnicas invasivas, mas tão somente as minhas mãos, o meu sorriso, a minha presença, as minhas palavras.
Do outro lado, sentir um aperto na mão, uma respiração que se acalma, um coração e uns lábios que sorriem e uma voz que diz "Dra., obrigado."
As noites no hospital podem ser muito solitárias. A ansiedade pré-cirurgia não dá tréguas, a insegurança de não se saber o que vai acontecer a seguir... mal consigo imaginar.
Hoje comprovei que um gesto pode ser muito mais terapêutico que um Lorenin. "Salvei" uma vida.
Comecei a semana bem triste e desapontada com as limitações da medicina e minhas.
Mas não há dúvida que a vida é um ciclo. E o ciclo desta semana terminou com este bem-estar que não sei descrever.
Só comparável a quando fiz o meu primeiro (e único até agora) parto. Mesmo sendo quase a 4 mãos, o colocar lá as minhas, incentivar a mãe, ajudar o bebé a sair, segurá-lo, cortar o cordão umbilical... e ouvir o primeiro choro..., provocou em mim uma sensação indescritivelmente boa. É o milagre da vida, e por mais pateta que estas palavras possam parecer, é mesmo sentir que se colocou no mundo mais uma criatura de Deus.
Invadiu-me uma hipersecreção lacrimal, que ainda consegui conter. Confesso, apetecia-me soltar aquelas lágrimas do canto do olho sobre as (duplas) bochechas, tal como já tinha feito, discretamente, noutros partos a que tinha assistido. Mas agora eu era médica, eu era A médica (uma das)... por isso respirei fundo, sorri, e, com a criança nos braços, disse "Parabéns!".
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