Solo a
Ciegas (con lágrimas azules)
Rasgado do Público numa madrugada de sábado há cerca de 2 semanas.
"Vais ao bailado?"- a
sms que me fez levantar do sofá onde adormeci toda a tarde, com a intenção primária de ler um livro.
Peguei no telefone "Já temos muito poucos bilhetes, e não fazemos reservas"
Cheguei ao local e o cenário pré-anunciado confirmou-se - "Já não há bilhetes, quer ficar em lista de espera?". O espectáculo começou e vi os últimos bilhetes desaparecerem nas mãos de pessoas que à minha frente e de todos os outros que não tiveram a mesma sorte, não se coibiram de mostrar a sua satisfação. Pena que trabalho amanhã.
Será este um "Sabor da Sandia" versão 2?? Aquele filme que não vi no festival de Barcelona em 2005, que perdi em várias salas de cinema alternativo no Porto em 2007/8? Não pelo que possam valer, mas pelo percurso da vontade, ainda não desisti (de ambos).
Depois do convite feito a diferentes personalidades, perguntei "
Faz sentido ir sozinha?" "Claro que faz!" - responderam-me do outro lado da linha, na mesma linha (de pensamento) "No anonimato dessa grande cidade, é o que faz mais sentido"
Confirmei pelo número de pessoas na mesma situação.
A
frustração do momento levou-me a entrar num (mais um)
shopping, em busca de um livro que me desse motivação para a próxima viagem. Antes que encontrasse uma livraria (se é que existe) passei pelas bilheteiras de um cinema cuja existência desconhecia. Num impulso comprei um bilhete, com desconto de estudante, para um filme que havia começado há 15 minutos. Este país não é para velhos.
"Dois?""Um, por favor".
Solo...Porque é que as pessoas vão ao cinema acompanhadas? Trata-se de uma actividade individual. Em tempos já tinha feito este mesmo tipo de reflexão. Foi a minha companheira de piso, H, venezuelana, acérrima defensora de idas a solo ao cinema que me convenceu a experimentar. É realmente diferente. Foi uma experiência positiva que até hoje, nem sei bem porquê não tinha repetido. A atenção e
envolvência que se dedica, compensa em larga escala a falta daquele pavilhão auricular ao lado, para a partilha. Mais uma vez choquei-me com a pressa das massas de sair em vez de aproveitar os momentos finais, normalmente com uma música
aconchegante. Pressionada não consegui manter-me até ao fim, mas foi melhor que nada. Nota positiva para uma sala em que imperava o silêncio durante o filme, ocasionalmente interrompido pelo casal que atrás ou ao lado, resolvia trocar uns afectos.
Solo..."No anonimato dessa grande cidade"
Anonimato? Quando o meu porteiro, sem eu nunca ter falado com ele, ou dado
abebébias para qualquer tipo de intimidade, sabe tudo sobre mim, onde a
esteticista além disso ainda faz perguntas tão íntimas que nem sei se com as minhas amigas teria essa conversa, onde em cada saída encontro sempre alguém conhecido... que anonimato?
Talvez Lisboa se tenha tornado uma cidade pequena demais para mim. Mesmo sem ter conhecido ainda todos os seus recantos ou encantos.
Solo...Sim, este Verão
quis viajar sozinha. Será assim tão estranho?
Solo...Porque bebo um café solo. Porque gosto!
Um beijinho especial àqueles com quem gosto de partilhar e que partilham comigo, apesar de todo o desejo do solo